No decorrer da vida a gente
está sempre perdendo alguma coisa. Nem sempre aceitamos essa realidade. Isso é
bem complicado. O mais difícil é perder alguém.
Este ano eu abri as portas
do meu mundo literário para livros angustiantes, digamos. “Garotas de vidro”
mexeu muito comigo. Inclusive, foi sobre ele que fiz a última resenha por aqui.
Sofri junto com a personagem principal.
A Laurel, personagem
principal da resenha de hoje, leva com ela uma culpa da qual ela não consegue
se livrar, o que piora tudo. Aliás, ela se culpa. Não quer dizer que a culpa
seja dela.
Laurel tinha uma família:
seus pais e sua irmã May. Ela via na irmã uma saída para tudo. May era a garota
que Laurel queria ser, não digo que ela tinha inveja, acredito que apenas
admiração demais. Ela via a irmã por um lado que era único. Havia faces da
irmã que ela deixava passar. A gente vai percebendo ao longo do tempo que May é
uma garota que está, de certo modo, perdida. E ela quer proteger a Laurel de um
contexto de vida desses. Mas ela mesma acaba estragando a felicidade dela, na minha opinião. Ela queria proteger a Laurel, mas acabou fazendo tudo ao contrário.
May era uma garota que
gostava muito de sair, de está por aí em qualquer lugar. Ela não suportava ver
os pais brigando. Ela sempre estava lá tentando resolver e na maioria das vezes
ela conseguia. Só que chegou uma hora que ela não foi suficiente para manter os
pais juntos e eles acabaram se divorciando. Ela se culpou por isso. Ela
acreditava que tinha falhado. Laurel observava isso e tentava tirar isso da
mente da irmã. Até que certo dia as coisas mudaram.
Laurel perde a irmã. E ela se culpa pela morte dela. Se culpa pelo
modo que aconteceu. A mãe foi embora para longe por causa da situação e ela se
sente abandonada.
Está tudo muito complicado
para ela. May era seu porto seguro e agora ela não está mais em lugar nenhum.
Só que o grande problema é que ela não consegue desabafar sobre isso, não
consegue conversar sobre isso com alguém e se culpa por tudo: pela morte da
irmã, pela mãe ter ido embora e isso a machuca muito.
Durante a leitura, a gente
pode acompanhar o sofrimento da Laurel através das cartas que ela escreve. Tudo
começou porque sua professora passa uma atividade na qual os alunos deverão
escrever uma carta para alguém que já morreu. Ela começa, mas ela acaba
escrevendo uma, duas e continua e continua...sem a preocupação de entregar a
carta, aliás: as cartas. Ela escreve para ícones da música pop internacional que a irmã dela era fã, para cantores que elas ouviam juntas,que já estão mortos. E é através dessas cartas que acompanhamos o decorrer da
história.
Quando eu concluí o livro vi
que a pesar de a May ter sido a garota que morreu, a grande vítima foi a Laurel,
que se culpou por tudo. A May, querendo ou não, colocou a Laurel em situações
complicadas e no final de tudo, ela mesmo piorou mais ainda a situação. É
sempre pior para quem fica.
O livro é realmente
angustiante, não tanto quanto “Garotas de Vidro”, mas é bem intenso. Tem um
certo romance, mas a história não gira em torno disso. A questão é mais a
ligação que a Laurel tinha com a May e
como ela lida com essa perda terrível. Acredito que o que ajudou a Laurel de
verdade foram as novas amizades, foi o fato de ela se sentir encaixada e sentir
que fazia parte de algum lugar. Acho que superar ela nunca vai, de verdade. Ela
vai aprender a conviver com isso. Chega um ponto do livro que ela entende que
não só ela perdeu alguém, ela entende que outras pessoas também se viram numa situação
dessas. A Laurel se via perdida dentro dos sentimentos dela e não conseguia
expor isso. Ela viu que falar sobre o assunto podia facilitar a convivência com a situação;
Carta de amor aos mortos
fala da importância de uma relação entre irmãs e de como as pessoas nos marcam
e elas não fazem ideia disso. Recomendado!
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